Hello

E a palavra é sempre refugio. Sempre, sempre, sempre...

sexta-feira, 3 de maio de 2019

Encontrei minhas vísceras jogadas no chão e as catei uma por uma
Fígado, intestino, coração
Amarrei-as uma na outra
E lembrei de ontem
de quando eu jogava com o corpo de me lançava na vida de outra forma...
Juntei e as guardei dentro da ossada do meu esqueleto
Costurei a pele e agora espero cicatrizar
Quero ver os efeitos disso
que pessoa sou agora
eu já não sei como bate meu coração

Perdi a estrada da emoção há um tempo
Encontrei uma comunidade que partilhava rigidez
Não pude sair completamente
As partes do meu corpo que fugiram esperaram por mim
e agora
talvez
finalmente eu tenha reencontrado tudo aquilo que em mim é nada
Estou cheia e carregada de tudo e não quero mais
A liberdade do Não é o que me move

O não
me salva
dos interstícios
alheios

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Se eu conseguisse fazer qualquer coisa dessa ausência não anunciada
Se as palavras também não fizessem vazio do vazio que você me faz
Se os poemas brotassem e a falta fosse mesmo terreno fértil para vida
Se a saudades não fosse o fundo para uma peça dramática mal ensaiada

Quem sabe assim
Amar seria menos turbulento
Apaixonar-se seria menos intenso
E quem sabe assim
Seríamos eu e você
De qualquer jeito
Sendo sempre
Nós mesmos
De qualquer começo
Ou fim
Quem sabe assim
Um dia
Seremos nós
E essa saudade que se faz de falta
Que se esconde na ausência
Que por um tiquinho não me mata
Torne tudo em querer bem
Querer aqui do lado o que está longe
Querer falar quando não se pode
E beijar os lábios
Quando os corpos
Em presença
Não se tem
-

quarta-feira, 20 de julho de 2016

Aniversário



De 25, disseram. Porque assim se conta a vida. Cada ano se vai um pouco e se deixa também, mas isso é todo dia. Algo fica na terra, no outro. 
E aí o dia que você nasceu se torna comemorável, sei lá por que. 
É meio creep comemorar ter vivido mais um ano, 
porque parece que é então difícil viver. 
Mas é também bonito celebrar a existência de alguém...
Eu particularmente passo por essas datas 
sem estar apegada a nenhuma dessas duas coisas...
ou esteja em um pouco de cada, talvez.
O dia 20 só chega e o que acontece 
é que o mundo começa a pensar em como celebrar 
e as pessoas se organizam e te interpelam 
em torno de algum evento. 
É uma data respeitada, outras desculpas, por exemplo, 
para não fazer algo não servem tanto quanto dizer: 
“é meu aniversário”. 
Ainda que isso não valha tanto para ti 
quanto alguma outra coisa...
Você se torna o centro das atenções por um dia, 
mas sei também que isso pode ser uma grande cilada 
se você cria grandes expectativas, porque, afinal, 
nesse dia você não é nada além do que sempre foi 
na vida de todo mundo...
e o que você sempre foi pra você mesmo. 
Tem também algo das próprias pessoas aniversariadas 
se fazerem importantes e criar todo um cenário festivo 
pra comemorar sua existência... 
quer dizer, se espera todos os dias para chegar o seu grande dia, 
que pode não ser nada além de uma acúmulo de expectativas 
que não pode ser assim tão intensamente expresso 
nos outros dias do ano...
porque nos outros dias do ano os aniversariantes são outros
Eu não sei se eu me importo realmente com isso... 
acho que se trata mais do que implica fazer aniversário, 
quer dizer, de todas essas cenas que parecem ter que existir 
para legitimar essa data pretensamente festiva. 
Mas eu não sei acredito que estou ficando mais velha, assim, tem acoisa do tempo, da temporalidade, 
de que esse tipo de organização é bem estranha.
Então eu não sei se eu sinto
Não sei se me sinto de aniversário
Acontece de as pessoas sempre atrelarem a data 
a coisas que você supostamente deveria estar fazendo 
dentro dos costumes sociais
Então se você fizer 10 anos vão te perguntar sobre a escola, 
20 sobre a faculdade e 25 sobre a formatura
Tudo chatíssimo!
A gente poderia conversar mais sobre outras coisas 
em vez dessas expectativas que são categoria imaginárias 
que nós não necessariamente vamos partilhar
Talvez sim, mas não importa tanto
Se a gente conversasse sobre outras coisas, talvez, 
até da esfera privada, seria mais interessante.
Tipo dos sonhos que as pessoas tiveram naquele dia
Coisas que quebrem os discursos sislogistas chatos
Que sempre tem um fim, um consenso 
e uma risada no final pra acabar com qualquer conflito
Se a gente suportasse conflito e fizesse um desaniversário
Se nos despíssemos das idades 
e de todas as morais que acompanham elas... 
Daí talvez eu gostasse mais desses dias ou me importasse 
Ou não porque se fosse como parece ser legal 
não faria sentido nenhum esses dias existirem
E aí seríamos todos desaniversariantes 
E ao mesmo tempo seríamos nada 
no que se refere à contagem de tempo e idade
Que o dia de nascimento seria nada além de qualquer coisa
Não se ligaria a esses entendimentos todos
Essas lógicas estranhas
Seria uma surpresa quando alguém lembrasse do dia que nasceu
Uma surpresa de elaboração própria, 
como quando alguém lembra de algo diferente da infância
Não seria do campo do comum
Ainda que pudesse ser
Mas não é
É impossível
Como hoje, meu aniversário
Um dia cheio de impossíveis...

domingo, 6 de dezembro de 2015

dor de outrora...


A cabeça não aguenta
O corpo cala
Mas não consente
O corpo sente
E grita de jeitos irracionais
Que sozinha
É difícil
Demais.

As confusões do dia tem me levado à lugares tristes
Poucas são as horas de prazer
(geralmente, as com você)
Tento sair desse escangalho e levantar
Partir
Para outros dias e vidas
Mas é só silêncio que sustenta
Um silêncio que diz que você irá embora um dia
Embora de mim
Embora da gente
ou
Que você é feliz demais
Para estar aqui
Para sempre

poema quebrado

Há roupas esquecidas no varal e passarinhos esquecidos no tempo
Eles brincam e as roupas estão mortas
Molhadas de esquecimento
Só continuam balançando
Enquanto os passarinhos emaranham-se nos tecidos chuvosos
Quem sabe sejam eles feitos de chuva
Deve ser ótimo ser um passarinho e não sentir frio, amor, saudades e essas coisas chatas de humanos.


[1]

Pois aí te perdi?
Depois de te pedir?
Ou perdi-me à mim?
Sem nunca ter tido a ti?
Ou te tive sim
E você que perdeu a mim?

Quando foi que nos perdemos
Nesses enlaces que tecemos?
Quando desenrolamos
Os fios mal ditos que trançamos?

Eu disse à ti
Não saiba de mim!
E disse a mim
O que queria de ti
Nisso tudo
Perdi
À quem?
Não sei.

Relações inefastas
Invólucros sinuosos que acabam (com um tico de coração saqueado)
Porque amar é sempre bom
Mas ser amada
É de outro tom

Foi bom me encontrar em ti
E ver um pouco de ti em mim
Foi bom te beijar assim
Sem nada à pedir
Sem muito a seguir

Foi como lembrar
Dos tons sem contraste da vida
Dos sons que não são cantigas
Da nota que não é música
Só acorde desfeito
Um sussurro:
Suspiro rarefeito

Coisa que aparece e se vai
E do que resulta
Ninguém sabe
Porque nesse encontro só cabe
Um dedilhado meio errado
Cavado nunca tocado
Um som que chega na janela à noite
Esvaído
Evanescido
Sem sentido
Só a casa escuta
Mas que quase luta
Pra não ser ouvido

[2]

Poema é delírio
Realidade insuportável que vaza
Escorre por onde pode
Poema é morte
Morte que vive
Triunfa na tragédia do vazio
Poema é flor pálida caida no chão
Pintura bonita jogada fora
Poema é um dia de sol sem vontade de mar
Um não querer tedioso que se inscreve num papel branco
Poema é dia depois de vômito
É sensação de queda livre em sonho
Poema é não poder
E fazer o que se pode
Com o que se tem
Poema é um jogo livre sem regras
É um estar longe de um não se sabe o quê
Uma volta imediata a um vazio etéreo
Poema é criatividade estéril
é luz do poste que apaga a luz da lua
Sorrigo frágil escondido no breu
Cabelo preso soterrado em tragédias
Dias regresssos do que não se deu

domingo, 26 de julho de 2015

Das pessoas que conheci, algumas continuam...

Outras, tão delas, tão imersas em si
Das coisas que são jogadas para trás e se finge esquecer
Mas ficam...
E voltam
Como escarros
Nos outros

Pessoas que tem essas coisas
Não quero tão perto
Sorrisos lonjíquos
Roupas e
Outras
Coisas
Diferentes.
Detalhes
Falas
Que podem ser
Desperdícios...

Dessas pessoas
Desejo distância
Porque meu desejo
É grande demais
Para ficar atolado
Em falas inertes
Quero gente potente
Que voa
alto
Gente que grita
Ecoa

Essa gente que fica no mesmo
Dispenso

Com carinho e ternura
Eu digo: até mais!
Quem sabe nos encontramos
Se um dia
você optar
Por viver
alturas